O relatório COVID-19 and the future of business, desenvolvido pelo IBM Institute for Business Value, apontou que a pandemia acelerou a transformação digital em 59% das organizações pesquisadas, sendo que para alguns dos 3.450 executivos entrevistados o salto foi de até 6 anos, com aumento significativo no orçamento para apoiar e desenvolver a infraestrutura necessária para que isso acontecesse, principalmente no que se refere a computação na nuvem.
Algumas perguntas surgem em função dos resultados da pesquisa: As empresas estão acelerando suas agendas de transformação digital para acompanhar a adoção da computação em nuvem? Esses investimentos estão retornando em valor para os negócios que as empresas esperam? Qual é o estado atual da transformação digital baseada na nuvem?
Para responder a essas perguntas, o IBM Institute for Business Value, em colaboração com a Oxford Economics, entrevistou quase 7.200 executivos C-level de 28 setores e 47 países. As descobertas apresentadas no relatório Cloud’s next leap - How to create transformational business value confirmaram muitas suposições e revelaram surpresas sobre a jornada das organizações para a nuvem.
O principal objetivo desse estudo foi examinar o estado atual da transformação digital baseada em nuvem. Para isso, os autores identificaram quatro estágios "progressivamente mais poderosos" de adoção da nuvem:
Cloud v1 – Compra de infraestrutura como serviço (IaaS) pagando apenas pelos serviços efetivamente consumidos;
Cloud v2 – Compra de serviços em hiperescala de provedores de nuvem com um cartão de crédito;
Cloud v3 – Atual movimento corporativo para a nuvem, como modelo padrão para infraestrutura de aplicativos, computação e rede;
Cloud v4 – Versão emergente que está se tornando a infraestrutura operacional padrão para a transformação de negócios.
Aplicando o tradicional conceito de “ciclo de vida de adoção de tecnologia” (figura 1), a IBM observou que a versão 1 da nuvem já superou o “abismo” entre os primeiros adotantes (early adopters) e a maioria inicial (early majority) como uma solução para o alto custo e os processos complicados associados aos data centers locais convencionais.
Fonte: Adaptação de “Crossing the Chasm: Marketing and Selling High-Tech Products to Mainstream Customers” de Geoffrey Moore.
Ainda segundo a IBM, a nuvem v2 também fez a mesma jornada, quando as unidades de negócios experimentaram o desenvolvimento de software comprando serviços em nuvem diretamente. Essa “TI sombra” (shadow IT) trouxe alguns problemas e resultou em altas taxas de interrupções e violações de segurança.
A versão 3 da nuvem, que envolve migrar cargas de trabalho existentes para a nuvem, modernizar aplicativos e montar “propriedades” em nuvem compostas por provedores de serviços em nuvem e estilos diversos de computação em nuvem, está atualmente a caminho do status de early majority, de acordo com o relatório da IBM, mas essa mistura complexa, envolvendo modernização de aplicativos, contêineres e microsserviços, design thinking, agile e DevSecOps pode se tornar confusa e cara. A IBM alerta que a integração com a nuvem e a tecnologia em nuvem pode ser implementada sem as alterações nas operações de nuvem necessárias para aproveitar o que é oferecido.
A nuvem v4, que ainda está na fase de inicial de adoção, é "a infraestrutura operacional ativa para a transformação dos negócios" e representa uma clara mudança de direção, de acordo com o relatório da IBM. Ela reformula os conceitos de toda a empresa no que se refere ao desenvolvimento de software habilitado para a nuvem e elimina as fronteiras convencionais entre “o negócio” e a TI. Se estiverem preparados para enfrentar as dificuldades de entrada, os primeiros a adotar esse modelo avançado de implantação em nuvem podem obter uma "vantagem sustentável do seu pioneirismo", observa a IBM.
Validação das hipóteses
O relatório da IBM testou uma série de hipóteses para validar os dados da pesquisa, entre elas se a "nuvem híbrida/multicloud venceu e se tornou a arquitetura dominante para as propriedades corporativas na nuvem". Veja o que os entrevistados relataram:
Fonte: “Cloud’s next leap - How to create transformational business value”, IBM.
Durante a pandemia, a porcentagem de entrevistados usando uma única nuvem pública caiu de 16% para 2%, enquanto a porcentagem usando uma combinação de várias nuvens privadas e públicas subiu de 44% para 59%.
Dado que as arquiteturas híbridas/multicloud estão se tornando a norma, o sucesso de tais implantações dependerá dos recursos das ferramentas de gerenciamento disponíveis. A figura a seguir apresenta uma relação das funcionalidades essenciais de nuvem híbrida/multicloud, segundo os entrevistados da pesquisa:
Fonte: “Cloud’s next leap - How to create transformational business value”, IBM.
No topo da lista, com 85%, está um requisito que provavelmente ocupará os fornecedores de software por algum tempo: “As operações em nuvem em ambientes públicos, privados e legados podem ser gerenciadas a partir de um único painel de controle”.
Além da necessidade de ferramentas de gerenciamento, a escassez de profissionais capacitados é frequentemente citada como uma barreira para implantações de nuvem mais sofisticadas. No entanto, na pesquisa da IBM, a maioria (54%) dos entrevistados relatou que as habilidades das lideranças “não são um obstáculo significativo para nossa propriedade de nuvem”, enquanto pouco menos da metade (47%) não teve problemas para encontrar pessoas com as habilidades ou experiência certas.
Resumo e perspectivas
A nuvem é o destino preferencial para as novas cargas de trabalho da maioria das organizações, enquanto a modernização e a migração de aplicativos legados continuam em ritmo acelerado. A nuvem híbrida/multicloud é a arquitetura de nuvem predominante, por vários motivos, incluindo a prevenção contra restrições de um único fornecedor e a necessidade de encontrar o melhor ambiente para as diferentes iniciativas de transformação digital.
O foco agora está em superar as várias barreiras para uma implantação bem-sucedida de várias nuvens, que inclui a escassez de profissionais capacitados e as diferenças de fluxo de trabalho entre os ambientes de nuvem. O gerenciamento de gastos na nuvem é um problema contínuo, enquanto as ferramentas de automação de infraestrutura estão se tornando cada vez mais importantes, principalmente quando se trata de provisionamento e implantação de aplicativos.
Provavelmente em cinco anos, não falaremos mais sobre os prós e contras da arquitetura híbrida/multinuvem. Em vez disso, a discussão será sobre empresas como desenvolvedores eficientes de aplicativos nativos de nuvem específicos do setor e implantações de cargas de trabalho automáticas, otimizadas e orientadas por IA.